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Um Grande Homem


Aprendi a gostar e admirar a música nordestina através do meu pai, conforme já descrevi. 

E falar do meu pai, é uma das coisas que gosto muito porque jamais posso esquecer-me desta pessoa que foi o Meu Pai e que vou amar eternamente. 

A história do meu pai, para mim, é um exemplo de vida, e não é porque eu seja a sua filha, mas pela grandeza da sua alma.

Meu pai era uma pessoa simples, nasceu numa cidade do Rio Grande do Norte. E ao se casar com a minha mãe, saiu do Rio Grande do Norte para trabalhar em uma cidade de Minas Gerais, pois era um exímio carpinteiro e a convite de um amigo foi para trabalhar em uma empresa de carpintaria e por lá ficou algum tempo. 

A empresa que ele trabalhava estava crescendo e assim se transferindo para São Paulo. Mas meu pai decidiu que não acompanharia a empresa, voltaria para a sua terra natal que era o Rio Grande do Norte. 

Eu, pessoalmente, jamais tive a oportunidade de ver alguém amar tanto a sua terra natal igual ao meu pai. Sabia de toda a história que envolvia a sua terra, de todos os pontos turísticos e geográficos. Ele falava que o motivo de não acompanhar a empresa que trabalhava era o receio de nunca mais ver a sua terra natal. E por este motivo resolveu retornar, quase sem condições financeiras nenhuma, mas como era um homem muito trabalhador enfrentou a volta sem medo, viajando em um pau de arara, numa viagem que demoraria mais de 08 dias. 

Mas, chegando a uma cidade no Ceará, aconteceu um problema com o caminhão, que exigia reparos para continuar viagem e por coincidência existiam vários caminhões parados também, todos com o mesmo problema e naquela cidade pequena não existia recursos, seria preciso procurar em outras cidades, alguém especializado para resolver aquela situação. 

Mas meu pai estava ali, com as suas ferramentas e a sua inteligência e terminou resolvendo o problema, o que fez com que todos aqueles caminhões parados exigissem a sua presença como profissional que era. O pau de arara, em que ele viajava com a minha mãe e eu, precisava agora partir e agora? Era preciso que ele ficasse, pelo menos uma semana naquela cidade, sem uma casa, sem conhecimento nenhum, terminou ficando em uma hospedaria e foi daí, que aquela cidade precisando de um carpinteiro tipo meu pai, imediatamente como cidade pequena a noticia corre depressa, muitas pessoas importantes daquela cidade deram um jeito do meu pai ficar por ali mesmo. 


E assim meu pai alugou uma casa sem sequer uma cadeira para sentar ou uma cama para dormir. Mas como homem trabalhador que era depressa foi se arranjando e em pouco tempo já possuía a sua própria oficina. Era um homem muito inteligente e a sua fama como fabricante das mais belas portas e janelas de madeira e carrocerias de caminhão corria por este Brasil inteiro. O meu pai foi a pessoa mais simples, humilde e pacata que já conheci. Não gostava de farras, não bebia, não fumava, nunca tive a oportunidade de ver ou o ouvir reclamando de alguma coisa, mesmo nos nossos momentos mais difíceis. Éramos oito filhos, e o maior presente que um pai pode deixar para um filho é o exemplo e posso dizer com muito orgulho, o exemplo do trabalho, da responsabilidade, da paciência, da mansuetude, pois em nenhum momento o meu pai discutiu ou entrou em conflitos com alguém. Os seus filhos: três faleceram, quatro são pessoas como ele batalhadoras e um destruiu de uma forma irresponsável tudo que ele levou uma vida para construir. Todos os filhos do meu já se iniciaram profissionalmente trabalhando com ele na oficina de carpintaria e serraria que era muito grande e a mais importante da região na época. Um dos seus filhos faleceu muito precocemente em uma pescaria, como não sabia nadar, caiu em um rio e morreu afogado. O segundo faleceu vítima de câncer, e o terceiro se suicidou. Três grandes episódios marcaram as nossas vidas. A primeira foi a doença do meu pai. Como trabalhava dia e noite, sem descanso, porque eram muitas as solicitações de seus serviços, terminou contraindo uma doença no pulmão, que por pouco não o levou a morte. Mas como era um homem muito forte venceu a doença. Seus negócios caíram muito e passamos mesmo muita fome nesta época sem meu pai poder trabalhar e gastando o que tinha com a sua enfermidade. Mas se recuperou e voltou à ativa e logo, logo recuperou o tempo perdido. A segunda foi um grande incêndio que devorou todas as suas máquinas e ferramentas e material de trabalho, restando apenas o carvão. Lembro-me do seu olhar triste, mas sem se reclamar ou maldizer a sorte! Sem desespero enfrentou aquela situação com bravura para recomeçar do nada e oito filhos para criar. A terceira foi o desabamento do prédio onde funcionava a oficina. De repente as paredes começaram a trincar e em menos de um dia, paredes e telhados estavam no chão, destruindo praticamente tudo novamente. A única vez que ouvi meu pai fazer um comentário a respeito de tantas desgraças foi quando falou bem assim: esse lugar parece que é azarado. E, imediatamente tratou de procurar um terreno para construir uma nova oficina e uma nova casa ao lado, a casa onde morávamos. E em menos de três meses estava tudo pronto, um prédio enorme quase a metade de um quarteirão e uma casa grande para os seus oito filhos.


Por várias vezes visitou a sua terra natal, o Rio Grande do Norte. Ajudou a muita gente da família, como os irmãos e sobrinhos.


Dos seus oito filhos, que na época restavam sete (pois um havia falecido, conforme escrevi) somente dois dos seus filhos, depois de crescidos saíram para terras distantes. E o tempo corre, os filhos casam e cada um segue o seu destino e como o tempo não para, a minha mãe adoece e veio a falecer com apenas 65 anos vítima de câncer. E em seguida o meu irmão também. Mas meu pai continuava trabalhando, nunca deixou de trabalhar mesmo com mais de oitenta anos. Nunca se casou novamente. 


Para se ter uma ideia da inteligência do meu pai, como ele havia trabalhado em empresa grande, fabricou as mesmas máquinas em madeira, mas com o tempo na medida em que crescia comprou todas as máquinas necessárias para desenvolver o seu trabalho.


Como já escrevi, meu pai amava a música nordestina, era o seu único lazer. Trabalhar e ouvir música. E pelo fato de amar muito o meu pai terminei adotando tudo que ele mais amava.


O meu pai faleceu com Mal de Alzheimer, E como acredito na vida do espírito, sei que aquele espírito é muito evoluído e que esteja onde estiver estará zelando ainda pelos seus filhos que restaram, graças a meu pai aprendi desde cedo a escutar com o coração as músicas do nordeste!

É mesmo muito difícil para mim escrever e relembrar tudo isto. Digo que, ame ao seu pai o mais que você possa e na sua velhice, faça por ele o que ele fez por você quando era criança e indefeso.


Estas eram as músicas preferidas do meu pai: e já coloquei no meu blog

Baião da Saudade de Noca do Acordeon


Rato Molhado de Pedro Sertanejo

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