Nesse sertão de miséria,
De fome e escravidão,
De fome e escravidão,
Uma tá de manicure,
Ou pintadeira de mão
Ou pintadeira de mão
Cum seu trabaio postiço,
Deu o maió ribuliço
Deu o maió ribuliço
Nas matuta do sertão.
Esse salão de beleza
Esse salão de beleza
Incaicô com liberdade
O botão da safadeza
O botão da safadeza
Junto com o da vaidade.
Gente de cabelo duro
Gente de cabelo duro
Saiu feito poico ispim
Gente do cabelo bom
Gente do cabelo bom
Saiu cum cabelo rim.
Vi nêga de capacete
Vi nêga de capacete
Cum os dedos dento dum môio
Vi pintamento de beiço
Vi pintamento de beiço
De cabelo e até de oio.
Guaribação de bochecha
Guaribação de bochecha
Pra limpar cara de jaca
Aparamento de unha
Aparamento de unha
Tiramento de inhaca,
Baibeadô de suvaco
Baibeadô de suvaco
Vi tapadô de buraco,
Disfaçadô de ressaca.
Disfaçadô de ressaca.
Vaqueiro fazendo unha,
Foi minha grande surpresa!
Foi minha grande surpresa!
Sentou-se no mei das feme,
Deixou de lado a macheza.
Deixou de lado a macheza.
Viúva do mermo dia,
Se alegrou da tristeza
E pra fugir do empêrro,
Logo depois do enterro
Logo depois do enterro
Foi pro salão de beleza.
A fama da manicure
A fama da manicure
Desceu de sertão a fora,
Matuta que conhecia
Matuta que conhecia
Só brilhantina glostora,
Pintou-se que nem paiaço
Pintou-se que nem paiaço
E pra quem era um bagaço,
Inté que teve uma miora.
Inté que teve uma miora.
Mais o que mais atraia,
As damas pra maquilagem
Era a mitida de pau,
No mundo da fofocagem.
No mundo da fofocagem.
A manicure seu moço,
Paricia uma navaia
Paricia uma navaia
Cortou do alto sertão,
Inté a beira da praia
Inté a beira da praia
Botou defeito nos santo,
Matou Neném de quebranto
Jogou freguês na gandaia.
Na base da fofocagem
Na base da fofocagem
Lucrava com garantia,
O salão era pequeno
O salão era pequeno
Pra festa da freguesia,
Quando o trabai começava
Quando o trabai começava
A freguesia escutava,
E a manicure dizia:
E a manicure dizia:
Gerome de Zé Lotero ?
Aquilo é que ser safado
Além de falso e xexeiro,
É mentiroso e tarado
É mentiroso e tarado
E pelo que me dissero,
Sendo fi de Zé Lotero
Sendo fi de Zé Lotero
Tem tudo pra ser viado!
Guilora de AtaÃde ?
Guilora de AtaÃde ?
Tão engraçada que era,
Hoje depois de parida
Hoje depois de parida
Virou uma besta-fera,
Também o cão do marido
Também o cão do marido
É mago, fei e cumprido,
Que nem a rosa pantera.
Que nem a rosa pantera.
Olhe minha fia finado Rubiná ?
Que Deus tape as suas oiça,
Armuçava nas panelas
Armuçava nas panelas
Mode não sujá as loiça,
Ah! sujeitim miserave,
Ah! sujeitim miserave,
Fuxiqueiro e imprestave,
Pro ele não há quem toiça.
Pro ele não há quem toiça.
O seu Manel Hostaliço ?
Todo metido a ricão
Passou a vida porpando,
Mode comprar uma mansão
Mode comprar uma mansão
Hoje véi, chei de dinheiro,
Tem uma casa cum dez banheiro
Tem uma casa cum dez banheiro
E o peste mija no chão.
Aquela ali varredeira, minha fia ?
Aquela ali varredeira, minha fia ?
Só veve de fuxicar,
Dá conta da vida alêia
Dá conta da vida alêia
De tudo quanto é lugar,
Em casa farta cumida
Em casa farta cumida
Tem quatro pia intupida,
Três redes pra custurar!
Três redes pra custurar!
A fia de Zé Botinha?
Oi! Eu não gosto de falá
Mas pra mim ela é chifreira,
E ninguém pode negá
E ninguém pode negá
Casou-se com Chico Bento,
Mas já saiu cum o sargento
Mas já saiu cum o sargento
E quatorze oficiá.
Minha cumade Honorina
Minha cumade Honorina
Já que os freguês foro embora,
Já qui nós tamo sozinha
Já qui nós tamo sozinha
Vou lhe contá uma estora.?
Sei que vós não advinha.
Sei que vós não advinha.
Esse magote de feme,
Que saiu quage agora
Que saiu quage agora
São tudo quenga, chifreira,
Veiaca e caipora
Veiaca e caipora
De todas aqui presente,
As única mulé decente
As única mulé decente
Só era eu e a senhora.
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