No tempo da emergença
Eu consegui me alistar
Pra receber umas feira
Que o governo ia mandar;
Dois mês dispois recebi
Farinha, massa de mi
E um feijão incardido;
Vortei pra casa sorrino
Alegre que nem menino
Apresentado, inxirido.
Já tava com quatro ano
Sem chover na região.
Fazia uns cinco mês
Que eu não comia feijão.
Quando eu recebi a feira
Me deu uma tremedeira
Que eu chorei de alegria;
Tão forte era a emoção
Que eu oiava pro feijão
E me alembrava de Maria.
Todo dia eu desejava
Na hora da refeição,
Invés de tanto arroz branco,
Uns carocim de feijão!
A feira foi um presente,
Agora eu tava contente
Cuma quem ganha num jogo.
Cheguei em casa correndo
E pra muié fui dizendo;
Bote a panela no fogo.
Maria disse: o que foi?
Tu matou outro preá?
Eu disse: arranjei feijão,
Cuide logo em cunzinhar!
Maria foi no terreiro
Trouxe uns pau de mameleiro,
Uns capim e umas paia;
Alimpou o carderão,
Pôs a água e feijão
E atufaiou na fornaia.
Quando foi de tardezinha
Maria foi espiar
Se feijão tava cozido
Pro mode a gente jantar.
O bicho tava era duro!
Maria foi no munturo,
Trouxe um tronco de juá,
Uns pau de jaburandinha...
Gastou a lenha todinha
E o feijão sem cunzinhar.
Já perto da meia noite
Queimou os pau da porteira,
Foi lá no canto da cerca,
Trouxe um touco de arueira.
Eu sei que nessa agonia,
Nós amanhecemo o dia
Com sono, fome e gastura
De comer só arroz puro
E o feijão tava mais duro
Que gari de prefeitura!
Sá Chica, minha vizinha,
Casada com seu Zé Cego,
Ensinou pra nós botar
Dentro da panela um prego.
Com isso ela garantia
Que o feijão cunziaria
De modo bom e seguro.
Mas sabe o que aconteceu?
O prego se derreteu,
Mas o feijão ficou duro!.
1 Comentários
Êita agonia...
É verdade: não dá pra ficar sem o pretinho.
Valeu!