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Conversa de Manicure "Jessier Quirino"


Nesse sertão de miséria,
De fome e escravidão,
Uma tá de manicure,
Ou pintadeira de mão
Cum seu trabaio postiço,
Deu o maió ribuliço
Nas matuta do sertão.

Esse salão de beleza
Incaicô com liberdade
O botão da safadeza
Junto com o da vaidade.
Gente de cabelo duro
Saiu feito poico ispim
Gente do cabelo bom
Saiu cum cabelo rim.

Vi nêga de capacete
Cum os dedos dento dum môio
Vi pintamento de beiço
De cabelo e até de oio.
Guaribação de bochecha
Pra limpar cara de jaca
Aparamento de unha
Tiramento de inhaca,

Baibeadô de suvaco
Vi tapadô de buraco,
Disfaçadô de ressaca.
Vaqueiro fazendo unha,
Foi minha grande surpresa!
Sentou-se no mei das feme,
Deixou de lado a macheza.

Viúva do mermo dia,
Se alegrou da tristeza
E pra fugir do empêrro,
Logo depois do enterro
Foi pro salão de beleza.

A fama da manicure
Desceu de sertão a fora,
Matuta que conhecia
Só brilhantina glostora,
Pintou-se que nem paiaço
E pra quem era um bagaço,
Inté que teve uma miora.

Mais o que mais atraia,
As damas pra maquilagem
Era a mitida de pau,
No mundo da fofocagem.
A manicure seu moço,
Paricia uma navaia
Cortou do alto sertão,
Inté a beira da praia

Botou defeito nos santo,
Matou Neném de quebranto
Jogou freguês na gandaia.
Na base da fofocagem
Lucrava com garantia,
O salão era pequeno
Pra festa da freguesia,
Quando o trabai começava
A freguesia escutava,
E a manicure dizia:

Gerome de Zé Lotero ?
Aquilo é que ser safado
Além de falso e xexeiro,
É mentiroso e tarado
E pelo que me dissero,
Sendo fi de Zé Lotero
Tem tudo pra ser viado!

Guilora de Ataíde ?
Tão engraçada que era,
Hoje depois de parida
Virou uma besta-fera,
Também o cão do marido
É mago, fei e cumprido,
Que nem a rosa pantera.

Olhe minha fia finado Rubiná ?
Que Deus tape as suas oiça,
Armuçava nas panelas
Mode não sujá as loiça,
Ah! sujeitim miserave,
Fuxiqueiro e imprestave,
Pro ele não há quem toiça.

O seu Manel Hostaliço ?
Todo metido a ricão
Passou a vida porpando,
Mode comprar uma mansão
Hoje véi, chei de dinheiro,
Tem uma casa cum dez banheiro
E o peste mija no chão.

Aquela ali varredeira, minha fia ?
Só veve de fuxicar,
Dá conta da vida alêia
De tudo quanto é lugar,
Em casa farta cumida
Tem quatro pia intupida,
Três redes pra custurar!

A fia de Zé Botinha?
Oi! Eu não gosto de falá
Mas pra mim ela é chifreira,
E ninguém pode negá
Casou-se com Chico Bento,
Mas já saiu cum o sargento
E quatorze oficiá.

Minha cumade Honorina
Já que os freguês foro embora,
Já qui nós tamo sozinha
Vou lhe contá uma estora.?
Sei que vós não advinha.
Esse magote de feme,
Que saiu quage agora
São tudo quenga, chifreira,
Veiaca e caipora
De todas aqui presente,
As única mulé decente
Só era eu e a senhora.


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