HorƔcio Banolas de Figueiredo Paz
Ouvi, cĆ” na cidade, a voz dolente
de um sabiĆ” modulando uma poesia...
E recordei-me, entĆ£o, lĆ” da Campanha:
- AguapƩ...Toropi...Santa Luzia...
Pois no seu canto simples - repassado
da mais recƓndita emotividade -
pressenti que ele estava declamando
um poema de ausĆŖncia e de saudade.
E quedei-me a cismar: - Que contingĆŖncia
o teria levado Ć zona urbana?...
O teria induzido Ć convivĆŖncia
para ele, infeliz, da vida humana?
SerĆ” que ele hoje estĆ” aqui morando
por um ato espontĆ¢neo? ou entĆ£o veio
impelido por forƧa soberana
que o exilou, sem dĆ³, lĆ” do seu meio?
E seguindo o seu cĆ¢ntico harmonioso,
procurei-o, em redor...atƩ que, enfim,
dei com ele - vivendo - prisioneiro
num viveiro de aves de um jardim.
Sim! vivendo entre grades, tĆ£o somente
porque sendo Cantor - vive a cantar...
(Talvez...para atenuar horas de tƩdio
do tirano que o foi aprisionar...)
Prisioneiro o Cantor das alvoradas
e das tardes serenas, de VerĆ£o,
ele que veio ao mundo, livre...e livre
pensou sempre viver - no seu TorrĆ£o.
Mas porque dentre as grades inda vibra?
por que nĆ£o fica, o pobre, a soluƧar?
- Ah! jĆ” sei a razĆ£o por que ele canta:
porque vive da dor de recordar.
E fiquei refletindo: - Como a vida
das criaturas tem fases iguais...
Exemplo: a minha, e a do SabiĆ” que canta
pelas mesmas razƵes sentimentais...
Pelas mesmas razƵes por que sentimos,
sob um cƩu de horizontes limitados
- Ć mĆ©dia que os dias vĆ£o passando -
a nostƔlgica dor dos transplantados.
***
4 ComentƔrios
Tudo.
Lembrei-me da mĆŗsica: "Vou voltar, sei que ainda vou voltar..." SabiĆ”...
Um abraƧo.
Lindo poema!
Gostei muito daqui!
Um abraƧo.